No primeiros dias da Era Espacial, logo do primeiro artefato no espaço (o Sputnik 1 soviético, em 1957) o primeiro ser vivo (a cadela Laika), a primeira descoberta no espaço exterior (os cinturões de radiação de Van Allen em 1958) e o próximo passo lógico parecia tentar fazer chegar alguma coisa até a Lua.
O primeiro objeto construido pelo ser humano que conseguiu abandonar de vez a gravidade da Terra (o primeiro "planeta artificial") foi o Lunik 1, em 1959. Foi lançado em direção à Lua – ele errou o alvo – mas, transmitiu importantes detalhes acerca do meio ambiênte entre a Terra e seu satélite natural. Pouco depois, os soviêticos lançaram a nave irmã o Lunik 2, e esta sim fez uma viagem perfeita até se espatifar contra a superfície lunar. Pela primeira vez os seres humanos conseguiam tocar, se bem que indiretamente, um outro corpo celeste. À importância científica e histórica se unia a importância política da façanha, demonstrada pelo fato de que parte importante do pequeno carregamento da nave era de medalhas e emblemas soviéticos: estávamos em plena Guerra Fria. Resultados ainda mais espectaculares vieram pela avançada Lunik 3, ao fotografar pela primeira vez o lado oculto da Lua, algo nunca antes visto pelos seres humanos.
No começo da década de 60 os americanos estavam prestes a começar um programa muito mais ambicioso. O objetivo para o final da década era nem mais nem menos que colocar um ser humano na superfície da Lua e trazê-lo com segurança de volta para a Terra: era o projeto Apollo. Para conseguí-lo, era imprescindível fazer um reconhecimento prévio da Lua. Tres projetos, o Ranger, básicamente naves de queda livre, que filmariam com câmeras de TV os últimos minutos antes do choque mortal; o Surveyor, naves de pouso que testariam os equipamentos e técnicas e analizariam o solo lunar para saber se era o não possível o pouso de grandes naves tripuladas; e o Lunar Orbiter, que faria mapas da Lua muito mais detalhados que os anteriores para escoher os melhores locais de pouso. Todas essas etapas foram realizadas com grande sucesso.
Os soviéticos continuaram com seus programas de naves à Lua, e as vezes até estavam na frente dos americanos, por exemplo com o primeiro pouso suave bem sucedido (Lunik 9) e o primeiro satélite artificial em volta de outro mundo (Lunik 10), mas em geral não conseguiram manter o ritmo dos americanos. Estes colocaram seis grandes naves tripuladas com uma dúzia de astronautas entre 1969 e 1972 em solo lunar, terminando o trabalho começado pelas Ranger. Os soviéticos tiveram que contentar-se com resultados bem menos espectaculares, mas que também têm a sua importância, por exemplo as primeras (e ate hoje únicas) amostras de outro mundo trazidas por controle remoto ( Lunik 16), e os primeiros carrinhos a controle remoto em andar numa superfície alienígena (Lunokhod).
A verdadeira era da exploração planetária começou
em 1962, com o lançamento da Mariner 2 americana rumo ao vizinho
mais próximo, Vênus. Esta nave confirmou a suspeita de que
a superfície de Vênus é mais quente do que um forno
de cozinha, e não menos importante, a nave robôtica conseguiu
sobreviver vários meses no hostil ambiente interplanetário
e transmitir informações à Terra desde muitos milhões
de km de distância. Um irmão mais avançado, equipado
com câmeras, mostrou que não existem brechas entre as nuvens,
e depois chegou a hora de estudar elas com uma nave de descida. A Venera
4 soviética se converteu no primeiro objeto construído pelo
ser humano e penetrar na atmosfera de outro planeta, mas não chegou
até o chão porque foi esmagada pela surpreendente pressão
atmosférica de Vênus.
sondas-interplanetarias-fig-01.jpg 34.92 KB Figura 1: A Sonda Mariner 2 |
Nos primeiros anos da década de 70 começam viagens até lugares mais distantes ainda: Mercúrio (visitado por uma única nave até hoje) e, além do cinturão principal de asteródes, Júpiter e Saturno. As Pioneer 10 e 11, são tambêm as primeiras naves que, depois de um reconhecimento preliminar desses gigantes gasosos, continuram viajando pelo espaço até sair do Sistema Solar. São as primeiras naves interestelares lançadas pela Humanidade. Como uma assinatura dos seus construtores. Eelas levam placas de alumínio banhadas com ouro com o desenho de um homem e de uma mulher, um código especial que se espera ser entendido por qualquer ser inteligente e um mapa da posicão do Sol e da Terra na Galáxia com a época em que as naves foram lançadas.
Esta primeira fase da utilização das naves espaciais se caracterizou pelo grande número de lançamentos (em parte por causa da corrida espacial em plena Guerra Fria) mas tambem pelo grande número de fracasos, porque a tecnologia ainda estava na sua infância. Depois da chegada do Homem na Lua, em virtude das revoluções tecnológicas conseguidas, especialmente na área de eletrônica e no tamanho dos foguetes, aparece uma segunda geração de sondas interplanetárias: grandes, pesadas, equipadas com grande quantidade de refinadíssimos instrumentos, com orçamentos altíssimos e com missões de duram até décadas. De novo as primeiras são lançadas para o vizinho mais próximo, Vênus. A série Venera dos soviêticos continua refinadom-se e conseguem pousos com transmisões de imagens e outros importantes dados desde a superfície, ao longo dos anos 70 e 80. Os americanos lançam missões para o estudo detalhado da atmosfera, e utilizando radar, fazem os primeiros mapas de alta qualidade da superfície permanentemente encoberta. O ápice da sofisticação desta técnica chega no fim dos anos 80, com a sonda Magellam (Magalhães) com um radar empregado a técnica de Radar de Abertura Sintética - mais caro que a própia nave - faz imagens equivalentes a fotografias de alta qualidade.
A missão que simboliza o estabelecimento desta nova era é sim dúvida a Viking, à Marte. Os americanos passam pela primeira vez da barreira do bilhão de dólares numa missão não tripulada, com naves tão avançadas que precisam de mil pessoas para monitorar o funcionamento. Alimentados até por baterias nucleares, realizam experimentos durante anos a partir de 1976, tanto desde órbita como desde o solo do planeta vermelho. Sem dúvida, os experimentos mais ambiciosos são aqueles de procurar sinais de vida no solo marciano. Os resultados desses experimentos biológicos, mostram-se contradictórios e nada conclusivos.
A sonda interplanetária mais bem sucedida da história
é desta época. Pouco depois das Viking, são lançadas
as sondas Voyager, uma versão reduzida de um projeto ao aproveitar
um rara conjunção de planetas para realizar um "Grand Tour"
pelos planetas exteriores. Com o mais modernos e sofisticado em sensores
e computadores as naves gemeas estudam com detalhes sem precedentes Júpiter
e Saturno (Voyager 1 e 2), e também Urano e Netuno (Voyager 2),
não só re-escrevendo livros científicos inteiros ao
passar por esses mundos distantes e ao mesmo tempo enchendo prateleiras
inteiras de novas informações. Praticamente tudo o que nos
sabemos dessa parte do Sistemas Solar, nós devemos as Voyager, que
funcionando por muito mais tempo do que inicialmente previsto, continuam
até hoje enviando informações enquanto saem do Sistema
Solar rumo as estrelas. Discos de ouro com: músicas, mensagens e
imagens da Terra viajam com elas, na esperança de serem encontrados
e decifrados algum dia por alguma civilização que não
podemos imaginar.
sondas-interplanetarias-fig-02.jpg 35.92 KB Figura 2: A Sonda Voyager (1 e 2I) |
Os últimos descendentes destas naves são a Galileo, dos Estados Unidos, lançada em 1989 para estudar durante pelo menos 2 anos o sistema de Júpiter, e a Cassini-Huygens, um projeto internacional que, com um preço de 3 bilhões de dólares é também o mais caro e sofisticado da história. Lançada em 1997, deve chegar em Saturno em 2004 e estudar esse sistema ao longo de 4 anos.
Em épocas mais recentes surge uma nova visão acerca da exploração espacial. Por um lado, novos países (especialmente os de Europa Ocidental e o Japão) desejam explorar o espaço interplanetário, de maneira acessível é claro. Por outro lado, os Estados Unidos, única superpotência sobrevivente, buscam diminuir os riscos de investimento nas novas missões. Em vez de construir e lançar uma única nave de bilhões de dólares com 20 instrumenstos científicos diferentes, se julga muito mais sensato lançar 4 naves com 5 instrumentos bem específicos, a um preço menor e com muito menos risco de perder a missão inteira caso aconteça alguma falha num sistema crítico.
Surge também um interesse em novos objetos do Sistema Solar. Missões como os encontros com o cometa Halley em 1986, que teve como protagonista principal a sonda Giotto da Agência Espacial Européia, demostram que naves pequenas e cooperação internacional em vez da confrontação também conseguem resultados espectaculares. Atualmente, missões para estudar o Sol, corpos menores como cometas e asteróides e um renovado interesse pelo planeta Marte (a missão Pathfinder/Sojourner) seguem esta filosofia.
Apesar de orçamentos cada vez mais reduzidos e o papel das sondas interplanetárias como instrumentos de pesquisa ainda são insubistituíveis, na primeira década do Século 21, nós esperamos uma participação mais ativa de novas nações exploradoras, missões sistemáticas aos objetos científicamente mais interessantes, e talvez uma viajem pela primeira vez ao único planeta que ainda não foi explorado, o último planeta do Sistema Solar: Plutão.
Aldo Loup, paraguaio, é monitor do CDCC no Setor de Astronomia
e está cursando o bacharelado de Engenharia da Escola de Engenharia
de São Carlos (ESSC) – USP/SC. Interessou-se por trabalhar em divulgar
a Astronomia no Observatório pelo seu envolvimento passado em clubes
de astronomia no Paraguai e Venezuela.
sondas-interplanetarias-fig-01.jpg 34.92 KB Figura 1: A Sonda Mariner 2 Mariner 2: Cortesia NASA/ JPL/ Caltech. |
sondas-interplanetarias-fig-02.jpg 35.92 KB Figura 2: A Sonda Voyager (I e II) Voyager 2: Cortesia NASA/ JPL/ Caltech. |
National Space Science Data Center.
http://nssdc.gsfc.nasa.gov
Jet Propulsion Laboratory.
http://www.jpl.nasa.gov
European Space Agency Solar System Division.
http://solarsystem.estec.esa.nl
Mark Wade’s Encyclopedia Astronautica.
http://friends-parners.org/~mwade/spaceflt.htm
J. Kelly Beatty & Andrew Chaikin ed., The New Solar System,
Sky Publishig & Cambridge University Press. New York 1990.